segunda-feira, 23 de abril de 2018

Ontem comemorou-se o dia da terra, e eu que há dez anos convivo de perto com os sujeitos quilombolas, tendo a honra de enriquecer minhas pesquisas com seus saberes tradicionais, seus modos de vida integrados com a natureza geração após geração. Vendo a terra como solo fértil de gentes e de vida, minha singela homenagem, como inspiração a trajetória e a poética que pulsa nas palavras da quilombola Dona Elenita, nossa parceria de pesquisas e conhecimentos em uma bela tarde de imersão à campo na Comunidade Quilombola Palmital dos Pretos, em Campo Largo-PR, o olhar em aproximação a estes sujeitos que realmente estão enraizados as suas terras ancestrais, berço de culturas, de saberes, de modos de vida alternativos, minha eterna gratidão por deixar a academia se engrandecer do seu cotidiano, das práticas e jeitos temporalizados por tanta sabedoria. 


Mapeando sentimentos 


Aquela mulher negra de rosto expressivo, envelhecido transmutou o tempo, suas batalhas, travadas
Seu olhar amendoado, espacializado sobre àquelas terras ancestrais
Traz na voz embargada a resistência do seu povo, quilombolas do Palmital.



Andando pelo seu chão 
Lugarizando cada pensamento 
A trajetória do seu pertencimento 
Pelas digitais riscadas 
Agarradas a cada punhado de solo sagrado
Cultivado, 
Sementes, saberes e sabores da sua tradição 
Os pretos do pilão, monjolo e casa de taipa 
Trazem na face o suor da luta,
Labuta geração após geração.



A mulher forte que pisa firme 
Cabeça erguida 
Altiva aos encantos da vida
Seus erveiros, a cancha de malha feijão 
Os pinheiros nativos, os remanescentes mapeando os sentidos e sentimentos do seu coração 
Aquele que pulsa
Pelas gentes, pela natureza 
O belo encontro com o seu passado-presente
Aqui mesmo onde se viu nascer 
Autoreconhecer etnia 
Dos afrodescendentes
Movimento, emancipação dos esquecidos 
Da Serra das almas
O grito fortalecido 
Do grupo pés e mãos enraizados no chão paranaense.




(Tanize Tomasi Alves, 22 de abril de 2018).


II° ENCONTRO ACADÊMICO-COMUNITÁRIO DA UNITINERANTE



Universidade Itinerante dos Direitos Humanos e da Natureza, pela Paz e pelo Bem Viver.



II° ENCONTRO ACADÊMICO-COMUNITÁRIO DA UNITINERANTE:
"SABERES GEOCOLÓGICOS TRADICIONAIS E DIVERSIDADE SOCIOTERRITORIAL"



Regularmente ofertada, a Disciplina ¨Saberes Geoecológicos Tradicionais E Diversidade Socioterritorial¨, sob a responsabilidade do Prof. Dr. Nicolas Floriani, do Programa de Pós-graduação em Geografia da UEPG, será realizada mais uma vez fora dos “muros¨ da Universidade.

Apoiado pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (UEPG) pelos Programas de Pós-Graduação em Geografia (UEPG) e Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR), pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR, Paranaguá) e outros professores e profissionais voluntários da Rede Casla-Cepial decidiu-se por realizar um período de vivência de uma semana em três comunidades tradicionais paranaenses, beneficiárias do projeto aprovado pelo CNPq (DAS TERRITORIALIDADES TRADICIONAIS ÀS TERRITORIALIZAÇÕES DA AGROECOLOGIAe onde serão trocadas experiências entre acadêmicos e habitantes do Faxinal.

A ideia vem ao encontro dos princípios da UNITINERANTE, projeto idealizado pela Casa Latino-americana (CASLA), que é dar voz aos atores  sociais historicamente inviabilizados pelas instituições formais (sistemas jurídicos, educacionais, democrático, etc), marcados pelo processo de modernização excludente, aproximando-se, com isso, das demandas reais das comunidades vulneráveis e em situação de conflitos socioterritoriais.

Oficina Participativa realizada no 1º Evento Acadêmico-comunitário da UNITINERANTE, em outubro de 2017, no Faxinal Sete Saltos, Paraná

A disciplina contará com a participação des professores, lideranças comunitárias e representantes do poder público e de ONG, buscando colocar em um mesmo patamar de discussão as diferentes narrativas de realidades sociais e territoriais.

O objetivo do evento acadêmico-comunitário é a formação-capacitação de profissionais, pós-graduandos e moradores das comunidades. A finalidade é a produção de material virtual para as comunidades, tal como um site ou blog.

A programação das atividades inclui Oficinas participativas, palestras e  práticas de campo nos referidos território rurais tradicionais, conforme exposto abaixo.



Disciplina PÓS GRADUAÇÃO UEPG-IFPR-MADE 
AGOSTO 2018

Dom 19
Seg 20
Ter 21
Quart 22
Quin 23
sex 24
Sao 25
Dom 26
Local
Guaraguaçu
Guaragaçu
Guaraguaçu
CASLA
CASLA
UEPG
Palmital -Sete Saltos
Palmital - Sete Saltos
Manha
Visita
Oficinas *
Prática de Campo
Reunião da REDE
Palestras
Palestras
Oficinas *
Oficinas *
Tarde
Oficinas *
Prática de Campo
Prática de Campo
Palestras
Palestras
Palestras
Oficinas *
Oficinas *


  • Oficinas:

Tema 1) Sistemas de certificação participativa da qualidade dos processos produtivos. Obstáculos e Potencialidades para territórios tradicionais

Msc: Ronir de Fátima Rodrigues (UEPG):
Dranda. Sandra Engelmann (IFPR), 
Drando. Renato Pereira (UEPG),

Tema 2) Etnopedologia e Manejo Agroecológico da Fertilidade dos Solos.

Dr. Nicolas Floriani (UEPG) e 
Drando Wanderlei Marinheski (UEPG), 

Tema 3) Agrobiodiversidade e Sistemas Agroflorestais: memória biocultural.

Dra. Margit Hauer (IAP)
Dr.João Felipe Dremiski (IFPR-Irati)
Dranda. Cleusi Bobato Stadler (UEPG).

Tema 4) Cartografias Sociais: geossímbolos e marcadores territoriais.

Dr. Antonio Haliski (IFPR): Coordenação atividades do Guaraguaçu
Dra. Tanize Tomasi Alves (UEPG)
Dr. Ronaldo Ferreira Maganhotto (UNICENTRO)


  • Palestras: 

    Dr. Adnilson de Almeida Silva (UNIR),  
    Dranda. Ivaneide Bandeira Cardozo (UNIR), 
    Dr. Ancelmo Schorner (Unicentro), 
    Dr. Almir Nabozny (UEPG),
    Sr. Acir Tulio (Faxinal Marmeleiro de Baixo),
    Dr. Ezequiel Westphal (IFPR-Paranaguá),
    Profa. Dra. Marilisa do Rocio Oliveira (UEPG), 
    Dr. Saint Clair Honorato dos Santos (MP-PR),
    Dra.Gladys de Souza Sanchez (CASLA), 
    Dra. Cristiane Esbalqueiro (TJT-PR), 
    Prof. Dr. Dimas Floriani (UFPR),
    Pof. Dr. Nilson Cesar Fraga (UEL), 
    Dranda Marisangela Lins de Almeida (UFSC).



Coordenadores
Dr. Nicolas Floriani (UEPG): coordenação da Disciplina
Dr. Antonio Haliski (IFPR): Coordenação atividades no Guaraguaçu;
Dra. Tanize Tomasi Alves (UEPG): coordenação atividades no Palmital Pretos;
Msc. Ronir de Fátima Rodrigues (UEPG): coordenação atividades no Sete Saltos 


As inscrições para a disciplina ocorrerão nos meses de junho-julho de 2018 para alunos regulares e especiais dos cursos de Pós-graduação em Geografia (UEPG) e de Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR). 



  


 De 19 a 26 de AGOSTO de 2018 - Ponta Grossa, Curitiba, Paranaguá - UEPG, CASLA, IFPR


quarta-feira, 18 de abril de 2018

RELATÓRIO DE CAMPO 1– COMUNIDADE QUILOMBOLA PALMITAL DOS PRETOS 17/04/18

Nos dias 14 e 15 de abril de 2018, realizamos duas imersões pontuais na comunidade quilombola Palmital dos Pretos, em Campo Largo-PR.

No primeiro dia com uma equipe de cinco integrantes da UEPG (Coordenador: Prof. Dr. Nicolas Floriani, Estagiária Pós-Doutoramento: Tanize Tomasi Alves, Pesquisadora: Lorena Dantas Abrami, Graduandas de Biologia: Brenda Olinke e Juliana Gomes) e no segundo com uma integrante a menos, nos reunimos na Cozinha Comunitária da Associação de moradores juntamente com um grupo de nove sujeitos locais (quilombolas), dentre elas a atual liderança Arildo Portela de Moraes e a antiga liderança Elenita Aparecida Machado e Lima.

A dinâmica estruturou-se em um bate-papo para exposição dos objetivos dos projetos coordenados pelo Prof. Dr. Nicolas Floriani da UEPG – “Das Territorialidades Tradicionais às Territorializações da Agroecologia: Saberes, Práticas e Políticas de Natureza em Comunidades Rurais Tradicionais do Paraná”, e, “Sistema Participativo de Certificação Socioambiental da Agrofloresta Faxinalense: Da Diferenciação à Qualificação dos Produtos de Comunidades Rurais Tradicionais do Paraná”

Arguindo sobre as questões agroecológicas, agroflorestais, a implementação do selo quilombola, e, destacando experiências desenvolvidas em outras comunidades da região. Neste momento, os participantes puderam levantar seus questionamentos e ainda, relatar experiências anteriores, como a construção de duas hortas comunitárias, que a princípio tiveram adesão, mas que não se sustentaram na lógica interna.

No segundo dia aprofundamos a questão da agrofloresta, já identificando e realizando o reconhecimento de uma área em que um sujeito quilombola deseja implementar o sistema. De forma, a construir uma horta, árvores nativas frutíferas, manejo de abelhas nativas e galinhas. Neste mesmo espaço, o referido quilombola já iniciou a construção de um monjolo para ser agregado ao arroio que corta a propriedade e futuramente ser utilizado para a confecção da quirera e farinha dos grãos cultivados. Também, fez a estrutura de madeira e palha de uma casa ecológica, que receberá paredes de barro e chão batido (FOTO 01). Já observou-se a plantação de mudas de bananeira e abóbora na área.
Foto 01 – Propriedade de Arildo, casa ecológica
Fonte: Grupo Interconexões/UEPG
Todavia, também identificamos uma segunda área que já tem um sistema que se aproxima da agrofloresta, mas que estaria disposta a implementação e complementação de uma maior diversidade de cultivos e plantas.

Com o restante do grupo aplicamos uma atividade de aproximação, com a projeção de uma teia de laços que reflete ao mesmo tempo as demandas de cada sujeito e do coletivo para a implementação dos projetos (FOTO 02). Realizamos a primeira sondagem dos produtos in natura ou manipulados que já podem ser ofertados pelos quilombolas. 

Nesta, tivemos quatro atores-chave para dar um panorama das atividades e práticas agrícolas desenvolvidas na comunidade. E ainda, destacou-se as potencialidades de cada propriedade em ampliar e diversificar suas atividades, e quais, capacitações seriam necessárias para dar suporte ao que já vem sendo realizado e ao que ainda será integrado.
Foto 02 – Sede da cozinha comunitária, Reunião e prática de aproximação com os sujeitos locais
Fonte: Grupo Interconexões/UEPG
Detalhes de uma incipiente comercialização também foram evidenciados, com a procura de pessoas externas vindo até a comunidade e da comunidade escoando estes produtos até zonas urbanas próximas, como Ponta Grossa e Campo Largo – PR, ou ainda, para áreas da vizinhança. As dificuldades de tornar esta prática estável abarca deste a falta de um selo, que divulgaria e certificaria a procedência do produto, até o transporte de mercadorias, e a própria seleção e reconhecimento de produtos para o público-alvo disponível.

As iniciativas para a adesão de um selo quilombola, partem da própria comunidade, que já tem material informativo sobre a existência desta possibilidade, assim como, já estão desenvolvendo o primeiro esboço do logotipo do selo, com símbolos que representam a identidade dos quilombolas de Palmital dos Pretos.

O estabelecimento de um banco de sementes, além da participação em feiras de troca de sementes é uma aquisição bem quista pelos moradores, inclusive, com a intenção de futura participação na feira de sementes que será organizada pela equipe Interconexões – UEPG e rede Casla em Curitiba, em novembro do presente ano. Internamente eles já praticam este sistema de trocas.


Uma nova imersão pontual foi marcada para o mês de maio para dar seguimento ao levantamento de dados e a projeção e explanação de um plano de atividades para a implementação das primeiras práticas agroecológicas.

Agradecemos a comunidade pela cordial receptividade e intenso diálogo.

Tanize Tomasi Alves

sexta-feira, 13 de abril de 2018

METODOLOGIA DO PROJETO

O projeto de Pesquisa aprovado pelo CNPq (Universal 2016), intitulado ¨Das territorialidades tradicionais à territorialização da agroecologia: saberes, práticas e políticas de natureza em três comunidades rurais paranaense¨, bem como o projeto de Extensão aprovado pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Paraná (edital Universidade Sem Fronteiras, 2016), intitulado  ¨Selo Socioambiental Produtos da Agrofloresta Faxinalense: Capacitação sociotécnica e empoderamento jurídico para a inclusão social e geração de renda em comunidades rurais faxinalenses do Paraná¨, têm como objetivo geral avaliar em que medida a proposta agroecológica de desenvolvimento local pode viabilizar as territorialidades tradicionais (os modos de viver e habitar de uma dada coletividade no território) de três comunidades rurais do Paraná, a saber: o Faxinal Sete Saltos de Baixo (município de Ponta Grossa), a comunidade remanescente de quilombolas do Palmital dos Pretos (município de Campo Largo) e a Comunidade de pescadores artesanais do Guaraguaçu (município de Pontal do Paraná).

Em termos de extensão, o projeto apresenta como finalidades:

  1. Caracterização da identidade socioterritorial no que tange às formas de  adoção  e/ou adaptação ao Modelo Alternativo de Produção Agroflorestal;
  2. A criação de uma Marca de Origem geográfico-cultural de Produtos Tradicionais de Base Ecológica;
  3.  A viabilização de Circuitos Alternativos de Comercialização e de geração de renda;

Tratando-se de um processo de adoção e desenvolvimento de tecnologias sociais, a idealização do projeto destacou como factual a configuração de um complexo problema de pesquisa, configurado de variáveis de seguintes ordens:

  • ecossistêmica (as vocações produtivas e as capacidades de regeneração dos ecossistemas),;
  • sociocultural (valores substantivos e imaginários a partir dos quais reafirmam-se as práticas de solidariedade comunitária e regimes de propriedade da terra);
  • econômica (formas de exploração dos recursos, organização do trabalho e repartição do seus produtos);
  • política (a territorialização de políticas institucionalizadas de ciência, assistência e extensão rural, bem como das dinâmicas globais do capital.

Assim, das múltiplas variáveis em jogo no processo de adoção de modelos alternativos de produção e comercialização, emergirão, em última análise, (re)arranjos socioterritoriais com repercussões em nível de representações, conhecimentos e práticas de agrobiodiversidade e reprodutibilidade socioecológica.

Nesses termos, aparece como imprescindível a constituição de uma equipe interdisciplinar, capaz de dialogar e atuar em nível de rede com outros atores do território, envolvidos no projeto de desenvolvimento local, e que seja virtualmente capaz de dar concretude às seguintes ações:

a. elaboração de modelos explicativos da territorialidade tradicional e dos problemas socioambientais em nível regional;

b. elaboração de cursos e oficinas de capacitação sociotécnica em agroecologia, que inclui o empoderamento jurídico e alternativas de comercialização, em conformidade com as territorialidades doravante caracterizadas; possibilitando; 

c. a identificação dos aspectos (dimensões) mais relevantes e decisivos para a efetivação ou não desse projeto agroecológico, isto é, dos capitais socioculturais catalizadores de práticas alternativas de produção (de base ecológica), de geração de renda (dinamização da economia territorial) e empoderamento jurídico (efetivação dos direitos socioterritoriais) dos agentes comunitários. 

Em termos concretos, tais ações deverão resultar nos seguintes em processos e produtos, sintetizados em três grandes metas, para cada item acima destacado:

i) elaboração de modelos explicativos da territorialidade tradicional e dos problemas socioambientais em nível regional;



ii) elaboração de cursos e oficinas de capacitação sociotécnica em agroecologia, que inclui o empoderamento jurídico e alternativas de comercialização, em conformidade com as territorialidades doravante caracterizadas; possibilitando; 





iii) a identificação dos aspectos (dimensões) mais relevantes e decisivos para a efetivação ou não desse projeto agroecológico, isto é, dos capitais socioculturais catalizadores de práticas alternativas de produção (de base ecológica), de geração de renda (dinamização da economia territorial) e empoderamento jurídico (efetivação dos direitos socioterritoriais) dos agentes comunitários.


Fotos da Ultima Reunião com Equipe Interdisciplinar dos Referidos Projetos, realizada no dia 23 de fevereiro de 2018, na sede do Programa de Pos-graduação em Geografia (UEPG), cidade de Ponta Grossa, Brasil. Estavam presentes representantes IAP (Dra. Margit Hauer), do Ministério Público do Paraná (Dr. Saint Clair Honorato dos Santos), IFPR Litoral (Dr. Antonio Marcio Haliski), IFPR-Campo Largo (Msc. Sandra Engelmann), do MADE-UFPR (Dr. Dimas Floriani), da CASLA (Dra. Gladys de Souza Sanchez e Jocasta) e Integrantes do Grupo Interconexões-UEPG (Dr. Nicolas Floriani, Msc. Renato Pereira, Vanderlei Marinheski, Juliano Strachulski), do Programa de Pós-Graduação em Geografia-UEPG (Dr. Almir Nabozny), as técnicas do projeto da Universidade sem Fronteiras (Msc. Ronir de Fatima Rodrigues e Tamires Benki) e  a assistente social Lorena Dantas.













Por: Dimas Floriani e Nicolas Floriani
25 de fevereiro de 2018