RELATÓRIO
DE CAMPO 03 – COMUNIDADE QUILOMBOLA PALMITAL DOS PRETOS
Entre os dias 12 a 14
de maio de 2018 a equipe do grupo Interconexões-UEPG aproximou-se da vivência
cotidiana dos quilombolas do Palmital dos Pretos (Campo Largo-PR) e Faxinal
Sete Saltos de Baixo (Ponta Grossa-PR) adotando a metodologia de imersão a
campo. A equipe dividiu-se em dois grupos para o levantamento das informações,
à equipe quilombola integrou: Tanize Tomasi Alves (Pós-Doutoramento), Lorena Abrami
Dantas (Assistente Social) e Brenda Olinke (Graduanda em Biologia), e, em alguns
momentos por todos os integrantes. Já à equipe faxinalense integraram: Renato
Pereira (Doutorando em Geografia), Cleusi (Doutoranda em Geografia), Vanderlei
(Doutorando em Geografia) e Juliana (Graduanda em Biologia). A grande maioria
dos integrantes de ambas as equipes pernoitaram nas comunidades (Foto 01).
Foto
01 – Equipe Grupo Interconexões UEPG e Quilombolas do Palmital na sede da
cozinha comunitária
No faxinal Sete Saltos
de Baixo foi possível confrontar distintas gerações em abordagens sobre os
saberes e práticas produtivas tanto disseminadas sobre as terras do criadouro
comunitário, quanto nas terras de plantar, propriedades individuais. Entre homens
e mulheres faxinalenses, diálogos complementando o agroecossistema produtivo
cotidiano, sob a floresta de Araucária.
Já o contato contínuo
com os sujeitos quilombolas possibilitou-nos uma intensidade de encontros face
a face em que pudemos imergir em suas práticas, saberes, atividades e rotinas
cotidianas, assim como, também fomos agraciados com a visitas ocasionais destes
em distintos momentos no decorrer dos dias. Muitos já eram nossos conhecidos,
outros viam até nós para se apresentarem e saber mais sobre os projetos de
pesquisa - “Das Territorialidades Tradicionais às
Territorializações da Agroecologia: Saberes, Práticas e Políticas de Natureza
em Comunidades Rurais Tradicionais do Paraná”, e, “Sistema Participativo de
Certificação Socioambiental da Agrofloresta Faxinalense: Da Diferenciação à
Qualificação dos Produtos de Comunidades Rurais Tradicionais do Paraná” -, em que a comunidade está integrada.
Desenvolvemos muitas
atividades com os quilombolas, desde almoços, jantares, café da manhã e da
tarde, de forma coletiva e participativa na cozinha comunitária. Nestas
ocasiões desfrutávamos da companhia e da troca de experiências nas práticas
culinárias e manipulação de alimentos. O compartilhamento das refeições, trouxe
novos sabores, saberes e produtos locais, conversas informais, com uma riqueza
de detalhes, sentimentos e emoções. O diálogo de confiança e respeito
estabelecido pelos pesquisadores e comunidade prevaleceu em todos os momentos em
que estivemos trocando saberes acadêmicos e vernaculares.
O líder quilombola
Arildo Portela
de Moraes com toda sua dedicação nos acompanhou em todos os momentos e em todas
as atividades. Seu conhecimento e sua ponte de comunicação estabelecida com os
moradores quilombolas nos privilegiou de ter livre acesso aos sujeitos e suas
propriedades. Reconhecer os pontos limitantes do território, os pontos
identitário-simbólicos, participar de momentos importantes, como a construção
da casa de adobe e sapê em sua propriedade. Uma área que vem ganhando forma com
o entrelaçamento de técnicas sustentáveis da agroecologia e da cultura
quilombola. Arregaçamos nossas calças e de pés descalços sobre o solo sagrado
dos ancestrais com toda a fluidez dos sentimentos pisoteamos a terra que foi
ganhando forma homogênea e nas mãos e comando do Arildo e de todos os integrantes
da equipe foi sendo moldada as paredes da casa, o centro do agroecossistema
(Foto 02).
Foto 02 – Atividade da Bio-construção na propriedade de
Arildo
A musicalidade da
geração mais jovem de quilombolas nos saudou na primeira noite no Palmital. Sob
um céu estrelado e o frio recém-chegado ao redor da fogueira sentamos e juntos
misturamos nossas vozes em cantigas atuais e recordadas pelas distintas
gerações sentadas sob a mesma roda de conversa. Instrumentos como flauta,
violão, tambor e pandeiro trouxe o encaixe para as vozes animadas e abertas a
dialogar no mesmo tom e sonoridade.
Percorremos mais do que
o território e propriedades, mas os sonhos, a esperança e fé de permanecer no
lugar que os ancestrais demarcaram através do suor da labuta, da resistência,
que ainda reverbera dos descendentes. As histórias de um povo espacializado sob
os quatro quantos daquele vale, entre as duas serras. Na companhia das
araucárias e dos cedros que fazem do Palmital há muito sua morada, os novos
cultivos alimentares, intercalados com essa floresta exuberante e centenária
destacam-se em diversidade e qualidade, seja das sementes ou dos saberes e
práticas das mãos negras revirando o chão.
Nos três dias fomos
surpreendidos pelos fortes laços de vizinhança, parentesco e afinidade que
pulsa do cotidiano entre os quilombolas do Palmital, entrelaçando-se aos seus modos
de vida e a organização dos seus sistemas produtivos tradicionais.
Agradecemos aos
sujeitos quilombolas e faxinalenses pela disponibilidade e dedicação para
dialogar com a equipe Interconexões/UEPG.
Tanize Tomasi Alves
Parabéns pelo trabalho e pelo belo relato!!!
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