Ontem comemorou-se o dia da terra, e eu que há dez anos convivo de perto com os sujeitos quilombolas, tendo a honra de enriquecer minhas pesquisas com seus saberes tradicionais, seus modos de vida integrados com a natureza geração após geração. Vendo a terra como solo fértil de gentes e de vida, minha singela homenagem, como inspiração a trajetória e a poética que pulsa nas palavras da quilombola Dona Elenita, nossa parceria de pesquisas e conhecimentos em uma bela tarde de imersão à campo na Comunidade Quilombola Palmital dos Pretos, em Campo Largo-PR, o olhar em aproximação a estes sujeitos que realmente estão enraizados as suas terras ancestrais, berço de culturas, de saberes, de modos de vida alternativos, minha eterna gratidão por deixar a academia se engrandecer do seu cotidiano, das práticas e jeitos temporalizados por tanta sabedoria.
Mapeando sentimentos
Aquela mulher negra de rosto expressivo, envelhecido transmutou o tempo, suas batalhas, travadas
Seu olhar amendoado, espacializado sobre àquelas terras ancestrais
Traz na voz embargada a resistência do seu povo, quilombolas do Palmital.
Andando pelo seu chão
Lugarizando cada pensamento
A trajetória do seu pertencimento
Pelas digitais riscadas
Agarradas a cada punhado de solo sagrado
Cultivado,
Sementes, saberes e sabores da sua tradição
Os pretos do pilão, monjolo e casa de taipa
Trazem na face o suor da luta,
Labuta geração após geração.
A mulher forte que pisa firme
Cabeça erguida
Altiva aos encantos da vida
Seus erveiros, a cancha de malha feijão
Os pinheiros nativos, os remanescentes mapeando os sentidos e sentimentos do seu coração
Aquele que pulsa
Pelas gentes, pela natureza
O belo encontro com o seu passado-presente
Aqui mesmo onde se viu nascer
Autoreconhecer etnia
Dos afrodescendentes
Movimento, emancipação dos esquecidos
Da Serra das almas
O grito fortalecido
Do grupo pés e mãos enraizados no chão paranaense.
(Tanize Tomasi Alves, 22 de abril de 2018).
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